Acordo assustado com o agito que está em minha casa. Tudo está balançando, mexendo demais. Tento pedir ajuda à mamãe, chutando.
- Carlos! Tá na hora!
- Sério? Vamos pro hospital agora!
Ei, esta voz é do papai! Por que eles estão gritando?
Chuto novamente e mamãe berra de dor. Será que a estou machucando? Sinto algo sacudir de novo e, de repente, meu conchegante lar fica seco.
- Carlos, vai mais rápido! A bolsa estourou!
- Calma amor, tô fazendo o máximo que posso! Tô correndo!
Agora sim entendi o que está acontecendo. Chegou a hora que mamãe tanto falava para mim... A hora em que iríamos nos conhecer. Porém, não quero sair daqui. Tudo é tão quentinho.
- Ontem, dia 11 de setembro de 2001, o mundo parou com o...
Oba! As notícias da semana! Adoro ouví-las. Mamãe sempre me fazia escutar o que ela chama de rádio.
- Carlos, desligue esse rádio e me ajuda a descer do carro! Cadê o Dr. Robson? Não vou aguentar!
- Meu docinho, ele já vem! Respira fundo... Um, dois. Um, dois!
Poxa, queria continuar ouvindo, mas tem algo me puxando demais! Será que é agora? Já começo a me despedir do meu canto.
- Faz mais força... Já tô vendo a cabeça. Isso! É um lindo menino!
Que sensação estranha. Nasci, porém não consigo abrir os olhos. Percebi que já estava no que papai chamou de quarto e a televisão estava ligada.
- Mais de 150 mortes já são confirmadas neste atentado no World Trade Center...
Mortes? Atentados? Nasci para presenciar tudo isso? Se for assim, sinceramente, quero voltar para o confortável abraço do amiguinho útero.
Nenhum comentário:
Postar um comentário