O relógio do bar marcava exatamente sete horas da noite quando um homem, muito bem vestido, sentou em uma mesa próxima à minha e pediu a bebida mais forte. Logo quando foi atendido, não pude deixar de perceber seu desespero ao falar com o garçom:
- Isso, isso! A bebida mais forte! Preciso esquecer meus problemas! Não agüento mais cuidar de meus filhos. Minha mulher só quer saber de trabalhar. Onde já se viu tamanho absurdo? A mulher começar a sustentar a casa e não cuidar do trabalho doméstico!
O garçom, coitado, trazia-lhe cada vez mais doses de whisky para tentar acalmar aquela "pobre alma". Foi lá pela décima vez de leva-e-traz do garçom que o barraco armou de vez: a mulher do homem, que já estava bêbado, chegou aos berros, falando para quem quisesse (ou não) ouvir que seu marido era um machista e não entendia nada do que ela chamou de evolução das mulheres no mercado de trabalho.
Foi a partir desta cena que comecei a pensar se era um marido certo e companheiro. Liguei para minha mulher para saber como estava lá em casa:
- Oi Júlio. Aqui tá tudo bem. O João tá dormindo, o Lucas tá no computador e acabei de dar mamadeira para a Sarah. Antes que me esqueça! Estava pensando em fazer um curso de web designer, mas já desisti. Não tenho tempo, porque cuido das crianças e também... Quem vai querer contratar um recém chegada no ramo e, principalmente, uma mulher? Deixa isso pra lá. Um beijo.
Nesta hora me toquei das palavras da esposa do homem do bar. O ingresso das mulheres no mercado de trabalho está aumentando cada vez mais e minha esposa não acompanhava isto por quê? Por puro machismo da sociedade?
Levantei, paguei a conta do bar, comprei uma rosa e saí de lá decidido a convencê-la a buscar o espaço dela, afinal, ela é mulher acima de tudo e possui os mesmos direitos que eu, principalmente o de se sentir realizada e amada.
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