quinta-feira, 28 de outubro de 2010

1-2-3 e... lá vou eu!

Andava suada, fresquinha de academia e do aero jump. Carregava uma bicicleta sem muita força e um saco de blusas com certo esforço.
Passando pela rua do cachorro irritante (que só latia a noite para todos que ultrapassavam o perímetro de sua residência),de dedos cruzados para não ser atacada de surpresa, percebi que havia um clima de excitação no ar. Eram crianças brincando de pique-esconde! Fiquei tão feliz de ver que, pelo menos nesta cidade esquecida pelos políticos e, de certa forma, por todos os brasileiros, há ainda o antigo jeito de brincar que mais adorava! 1-2-3 Bianca! Ninguém me pegava. Foi tão gostoso aqueles poucos segundos em que passei ao lado de um menino, baixinho, de aproximadamente uns 9 anos, negro e com bochechas gordas, contando: 1,2,3,4... lá vou eu! sendo que bem atrás dele tinham três almas puras e sapecas prontas para dar o bote assim que ele saísse. E não foi o que aconteceu? Mal tinha acabado de contar e as três mãozinhas já encontaram na parede, citando seus nomes. Coitado, nem deu tempo de sair para procurar. Crianças safadinhas.
Ah, que saudade do MEU tempo.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Cores do Vento


Lá já ia a menina para suas tarefas. Tão dedicada!

Todos os dias em que subia um pequeno elevado de solo para aquele Instituto, olhava para os pés, afinal o All Star sempre deveria estar muito branco. Foi então que o destino quis que ela olhasse para o lado. Uma brisa leve e suave batia e fazia com que a grama estimulasse a dança das folhas. Eram três, secas e amareladas. Mas dançavam tão belamente que a menina queria parar ali para admirá-las. O vento ajudava bastante, para o maior deslumbre dos cachos e do all star branco. Pareciam pequenos pássaros que brincavam uns com os outros. Queria ficar ali vendo toda essa simplicidade, sentar no verde e ficar observando o Lago Açu.

Mas era hora de trabalhar. Subiu na bicicleta e foi.

domingo, 4 de julho de 2010

Meados de 70


Era um momento bem energizante e ele sabia disso porque seus pais o vestiam de verde e amarelo umas duas vezes por semana. Sabia pouco da vida, mas já conseguia identificar cores.
Iam todos para sua casa, ligavam a televisão e, ao invés de assistirem Tom e Jerry, viam uma coisa meio corrida, rápida demais para ele acompanhar.
Olhava pra mamãe que o afagava em seus braços como se perguntasse o que estava fazendo com tanta gente lá.
E quando todo mundo gritava junto a mesma coisa? Era ensurrecedor. Ficava assustado e começava a chorar. Logo já vinha alguém dizendo algo que ele não entendia, mas gostava.
Todas as semanas daquele mês de junho foram a mesma coisa. O chaqualhavam de um lado para o outro, cantarolando músicas engraçadas e de bom tom. No fundo, ele se divertia.
E aprendeu a ganhar gosto pela coisa. Tentava fazer igual com o irmão, depois que assistiam. Tinha 2 anos, mas já sabia: Argentino é tudo maricón!

sábado, 26 de junho de 2010

Eita moça!


Lúcia não andava muito animada com a vida não. Pra falar a verdade, ela preferia morrer. É, morte súbita. Nada dava certo. Seu trabalho de apenas carimbar as inúmeras cartas com as declarações de quanto cada estúpido rico ganhava em cima de outros era desesperador.
Em uma tarde de terça-feria, resolveu sair. Abandonar tudo e ir ao encontro do divino. Pegou cada artefato importante sentimentalmente, colocou no bolso, entrou no carro de 95 e partiu.
Para onde iria ela não fazia idéia, mas foi. Viu pessoas apressadas nas enormes ruas de São Paulo e teve pena delas. Pensou: "Que pena que não podem simplesmente morrer, como eu. Elas são muito importantes, não como eu."
Abandonou o carro, com chave e tudo depois de dezoito quarteirões e resolveu andar.
Pensava na vida, nas crianças e no cachorro. Sinceramente, acho que ela pensava mais no cachorro.
Andou por alguns terríveis minutos antes do adeus e achou um lugar ideal: um ferro velho. Foi entrando sem medo, sem escrúpulos e peso.
Pegou um porta retrato com a foto dele. Passou a mão pela cabeça e percebeu que tinha esquecido justamente o artefato para o suicídio. Virou-se correndo, tentando lembrar onde estava o carro, decididamente brava.
Foi quando apareceu aquele senhor, dono do local, perguntando o que aquela menina linda e ruiva queria num local tão sujo. Ele era tão simpático, tão adorável que Lúcia até aceitou tomar um chá.
Conversaram sobre o universo, as estrelas e como o depósito ficava misterioso a noite. Escureceu e ela continuou.
Desistiu de morrer, desistiu do trabalho e do carro perdido. Finalmente achara uma emoção.
Agora todos os dias Lúcia só quer saber do seu chazinho das cinco com seu novo amigo, Seu Generoso.

domingo, 16 de maio de 2010

Alguém me leva para um mochilão?
Preciso voar!

Erva Doce


Apesar dos pesares, ela passava creme para as mãos. Pintava de todas as cores possíveis para fortalecer... apenas as unhas, não o coração.
Elogiavam o cabelo, várias pessoas. Quem ela realmente queria? Não.
Começou a abrir mão de tudo. Janaína só queria estudar agora para ganhar dinheiro. Esta questão a aflingia.
Queria viajar pelo mundo, falar novas línguas e dançar.
Ah! Como queria dançar. Tirar fotos de flores, animais e gente.
Mas ela estava lá... tão só, tão sem bolso, tão sem unha grande.

domingo, 9 de maio de 2010

Hunf


Queria ter idéias, pensamentos novos e interessantes.
Fico parada, sem fazer nada, com vontade de escrever.
Sem historinhas de amor nem de cansaço.... Cansei.
Está frio e o inverno finalmente chega.
O coração palpita pois o cérebro crê que algo sairá das entranhas de poucos dedos e algumas inovações.
Porém um segundo se passa e... foi!


"Gastei uma hora pensando um verso, que a
pena não quer escrever."

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Pente que te penteia


Acordava as seis da manhã pela mãe e ia se arrumar.
Penteava o cabelo (que não gostava). Ele parecia uma vassoura.
Tinha vergonha.
Tomava café com bolachas. Era barrigudinha, de olhos castanho escuro.
E lá ia, com a fé e a coragem para mais um dia de aprendizado.
Conhecia muitas pessoas, afinal era bem simpática.
Amigas lindas, loiras com cabelos alisados. E o dela lá, vassourinha sem cachos (perdidos pela escovação).
Quando ele passava! aaah, inspiração!
Era só coleguinha, nunca olhara de outra forma para ela.
Sempre preferiam as de cabelo liso.

Ela cresceu e resolveu assumir seus cachos.
Passava creme para moldá-los e ficava esbelta. Era totalmente diferente do resto da população (formolizada) que frequentava o ambiente escolar. E sentia orgulho disso.
Saía com as amigas e, na maioria das vezes, perdia paqueras para elas.
Tudo por causa do cabelo, pensava.
Até que jogou tudo para o alto e se descobriu ainda mais bonita.
Era a única diferente das nove do grupo e por isso se destacava.

E não é que ela achou o amor?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Seque a maçã do rosto

O que ela tem nas mãos?
O que ela tem no coração?
Pensa, chora e tenta esquecer.

Por ser algo tão simples e mesquinho, ela tem que andar pra frente.
Mas se sente tão só, tão vazia e fria.
Por que isso agora? Ela só queria abrigo.
Um abraço, um olhar, uma ligação que confortasse.

O que ela tem nas mãos?
Não sei.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Indago


Pensando com meus botões, analiso ditados populares. Compreendo seus sentidos, mas a expressão poderia melhorar.
"Mais vale um pássaro na mão do que dois voando?" Sinceramente, prefiro os que voam livremente daqueles presos às mãos dos homens. Estes sofrem mais, enquanto aqueles vivem sem muitas preocupações e são mais felizes.
"Cavalo dado não se olha os dentes" Claro que tem que olhar, afinal, temos que cuidar do pobre coitado, sendo ele dado ou não, ora bolas!
"Quem com ferro fere, com ferro será ferido" Então quer dizer que fica nessa violência pro resto da vida? Um fere, é ferido e fere outro e é ferido... Tudo isso num ciclo viciante. Gosto muito não. Pra mim, ferro só pra passar roupa.
"A pensar morreu um burro" Por que um burro? Ah, claro, se cada um pensar um pouco, um burro morre? Coitado do bicho, já é todo esquisito e morre a cada milissegundo!
"Antes só do que mal acompanhado" Sinceramente, às vezes a própria pessoa é um inferninho por dentro. Sou mais ter alguém sempre.
"Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher." Depende muito do caso... Alguem pode estar dando sopa (trocadilho?)
"Casa de ferreiro, espeto de pau" Não é só porque ele é ferreiro, que o espeto necessariamente tem que ser de pau. E se fosse de aluminio?
"Devagar se vai ao longe" E o cansaço? Nunca vêm?
"De boa intenções o inferno tá cheio" Pensava que era ao contrário.
"Um homem prevenido vale por dois" NEM ACHO! Quase não existem mais homens prevenidos, melhor ter estoque.

E por aí vai essa brincadeira que já fica chata ao chegar de 12:25 em que a fome bate. Fui.
Briga de marido e mulher, ninguém mete a colher

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Embalos de um dia alheio



Chegou ao ponto cansada e torta. Não aguentava mais tanta papelada, tanto trabalho, tanto estudo.
Precisava de férias.
Foi através desse pensamento que tudo em sua vida mudou, numa questão de oito horas.
Entrou no ônibus lotado e ninguém lhe cedeu o lugar. Estranhou, pois era tão bonita!
Até que um homem de uns 24 anos - pôde perceber - ofereceu. Agradecida sentou-se do modo mais delicado de uma pessoa cansada. O homem sentou ao seu lado, no chão mesmo. Começaram a conversar e ela foi se reconhecendo naquele corpo magrelo e moreno. Os olhos de caramelo do homem fino espelhavam a esperança da gordinha, ela mesma.
Faculdade, preço do dólar, viagens até Cristo Redentor.
- Ei, vamos? Está aqui ao lado!
Desceram juntos, cheios de parafernalhas na mão e sem se preocupar com o tempo. Devia ser umas 15 horas.
Subiram conversando, tiraram até foto!
Ela se identificou muito. Ele também.
Compraram sorvete de coco da Kibon, era o preferido de ambos.
Andaram por muito tempo, sem destino e sem relógio.
Anoiteceu, se despediram e ela pegou a condução para casa.
Olhando as fotos no caminho percebeu: estava apaixonada!
- Ei, ei, qual é o seu nome?
- É R...
Ônibus rápido, audição falhada. Perdera o nome do estranho para sempre.
Não sabia se um dia iria reencontrar aquele que mal conhecera e logo se entregara.
Abaixou a cabeça até os joelhos, a segurando com as mãos.
Suspirou e desistiu.
- Até mais, magrelo homem!

Estrela menina



Marina sempre fora sonhadora.
Olhava as estrelas a noite e contava quantos segundos durava a sua inspiração por elas. Expirava e contava novamente. Comia pitangas analisando o céu. Todas as noites, com seus cabelos ruivos e um bico-de-papagaio na orelha. Era exuberante. Deitada na grama, lambia e lambia como se todas fossem um único picolé de amora. Que afeição! Que plenitude. Conversavam. Eram todas ouvidos. Sempre soube que eram as únicas que interpretavam tamanha admiração. Pensava em ser um balão bem grande para poder chegar até lá. Fechava os olhos e... eram apenas gotas de chocolate. Rolava de um lado a outro e subia na mais alta árvore para alcançá-las. Claro, com seus morangos. Ficava horas lá até ouvir uma voz maternal a chamar para comer... Acerolas. Pena que estão tão longe. Pena que não há mais jambos. Desce, vai para casa e se enrola num manto, sem tirar os olhos delas. Tão brilhantes, tão bonitas... tão chuva de prata! Que vontade de comer pitangas. Fecha os olhos... E dorme.