Todo dia levantava às cinco da manhã para preparar os presentes. Nunca dava para fazer isso no dia anterior, seria perigoso demais... Poderiam desconfiar.
Botava tudo numa sacola de papai noel atrasado, vestia a roupa rasgada, o tênis de anos e saía com sua carroça.
Dez para as sete lá estava ele, anunciando a entrega. Corria gente de tudo quanto era canto daquele promíscuo lugar.
- Calma, calma. Tem pra todo mundo! Mais rápido, ninguém pode ver.
Carnes, frutas, leite, arroz, casacos e cobertores eram os principais componentes do Natal fora de época.
Olhos cheios de lágrimas agradeciam do fundo do coração.
Sentia-se honrado. Apesar de todo o esforço, adorava ver um sorriso no rosto da criança que acabara de ganhar um carrinho "novo".
Era tudo em segredo. Todos os bairros o guardavam. Até que um dia alguém, não se sabe quem e nunca saberá, denunciou.
Os fardados chegaram na hora exata da entrega. Foi uma correria! Apenas restavam pedaços de comida e ele, no chão.
Foi levado e preso por furto.
- Tudo que fiz foi para ajudar! Deixe eu me explicar.
Entretanto não queriam saber. Era apenas mais um pobre roubando e, por incrível que pareça, para ajudar os outros.
Quatro anos de cadeia por um furto de bem, sem direito a nada.
Entre celas sujas, riscos e tatuagens tinha o pensamento: "Pátria que me pariu!"
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