terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Embalos de um dia alheio
Chegou ao ponto cansada e torta. Não aguentava mais tanta papelada, tanto trabalho, tanto estudo.
Precisava de férias.
Foi através desse pensamento que tudo em sua vida mudou, numa questão de oito horas.
Entrou no ônibus lotado e ninguém lhe cedeu o lugar. Estranhou, pois era tão bonita!
Até que um homem de uns 24 anos - pôde perceber - ofereceu. Agradecida sentou-se do modo mais delicado de uma pessoa cansada. O homem sentou ao seu lado, no chão mesmo. Começaram a conversar e ela foi se reconhecendo naquele corpo magrelo e moreno. Os olhos de caramelo do homem fino espelhavam a esperança da gordinha, ela mesma.
Faculdade, preço do dólar, viagens até Cristo Redentor.
- Ei, vamos? Está aqui ao lado!
Desceram juntos, cheios de parafernalhas na mão e sem se preocupar com o tempo. Devia ser umas 15 horas.
Subiram conversando, tiraram até foto!
Ela se identificou muito. Ele também.
Compraram sorvete de coco da Kibon, era o preferido de ambos.
Andaram por muito tempo, sem destino e sem relógio.
Anoiteceu, se despediram e ela pegou a condução para casa.
Olhando as fotos no caminho percebeu: estava apaixonada!
- Ei, ei, qual é o seu nome?
- É R...
Ônibus rápido, audição falhada. Perdera o nome do estranho para sempre.
Não sabia se um dia iria reencontrar aquele que mal conhecera e logo se entregara.
Abaixou a cabeça até os joelhos, a segurando com as mãos.
Suspirou e desistiu.
- Até mais, magrelo homem!
Estrela menina
Marina sempre fora sonhadora. Olhava as estrelas a noite e contava quantos segundos durava a sua inspiração por elas. Expirava e contava novamente. Comia pitangas analisando o céu. Todas as noites, com seus cabelos ruivos e um bico-de-papagaio na orelha. Era exuberante. Deitada na grama, lambia e lambia como se todas fossem um único picolé de amora. Que afeição! Que plenitude. Conversavam. Eram todas ouvidos. Sempre soube que eram as únicas que interpretavam tamanha admiração. Pensava em ser um balão bem grande para poder chegar até lá. Fechava os olhos e... eram apenas gotas de chocolate. Rolava de um lado a outro e subia na mais alta árvore para alcançá-las. Claro, com seus morangos. Ficava horas lá até ouvir uma voz maternal a chamar para comer... Acerolas. Pena que estão tão longe. Pena que não há mais jambos. Desce, vai para casa e se enrola num manto, sem tirar os olhos delas. Tão brilhantes, tão bonitas... tão chuva de prata! Que vontade de comer pitangas. Fecha os olhos... E dorme.
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