sábado, 26 de junho de 2010

Eita moça!


Lúcia não andava muito animada com a vida não. Pra falar a verdade, ela preferia morrer. É, morte súbita. Nada dava certo. Seu trabalho de apenas carimbar as inúmeras cartas com as declarações de quanto cada estúpido rico ganhava em cima de outros era desesperador.
Em uma tarde de terça-feria, resolveu sair. Abandonar tudo e ir ao encontro do divino. Pegou cada artefato importante sentimentalmente, colocou no bolso, entrou no carro de 95 e partiu.
Para onde iria ela não fazia idéia, mas foi. Viu pessoas apressadas nas enormes ruas de São Paulo e teve pena delas. Pensou: "Que pena que não podem simplesmente morrer, como eu. Elas são muito importantes, não como eu."
Abandonou o carro, com chave e tudo depois de dezoito quarteirões e resolveu andar.
Pensava na vida, nas crianças e no cachorro. Sinceramente, acho que ela pensava mais no cachorro.
Andou por alguns terríveis minutos antes do adeus e achou um lugar ideal: um ferro velho. Foi entrando sem medo, sem escrúpulos e peso.
Pegou um porta retrato com a foto dele. Passou a mão pela cabeça e percebeu que tinha esquecido justamente o artefato para o suicídio. Virou-se correndo, tentando lembrar onde estava o carro, decididamente brava.
Foi quando apareceu aquele senhor, dono do local, perguntando o que aquela menina linda e ruiva queria num local tão sujo. Ele era tão simpático, tão adorável que Lúcia até aceitou tomar um chá.
Conversaram sobre o universo, as estrelas e como o depósito ficava misterioso a noite. Escureceu e ela continuou.
Desistiu de morrer, desistiu do trabalho e do carro perdido. Finalmente achara uma emoção.
Agora todos os dias Lúcia só quer saber do seu chazinho das cinco com seu novo amigo, Seu Generoso.